Rapunzel,
por Lélia Almeida.
Rapunzel
publicou um anúncio no Face procurando um namorado, um cara legal, boa gente,
dedicado, companheiro e divertido. Choveram mensagens e ela foi fazendo o
descarte pelas fotos, sobraram poucos e ela decidiu recebe-los na porta da
torre, deixando as tranças douradas firmemente atadas nas grades da janela. Um
deles, um príncipe vindo de terras distantes ajoelhou-se aos seus pés e com voz
maviosa disse que lhe seria eternamente fiel e apaixonado, que casaria com ela,
que a faria feliz e lhe daria muitos filhos e que ela seria o grande amor de
sua vida. Que ela esperasse por ele, tinha ainda muito que resolver, que
voltaria, que ela o esperasse, que não se arrependeria pela paciência e
perseverança. O mancebo falava de olhos fechados e parecia hipnotizado pela
própria voz sem parecer vê-la, nem mesmo ouvi-la ou perguntar o que ela queria.
Entendeu que o narciso-em-flor era daqueles que ignoram as demandas das
mulheres e que ela mesma nunca ia ter espaço para expressá-las.
“Deus-me-livre”, ela pensou escalando silenciosamente de volta pra torre e
enquanto ele seguia embalado por suas promessas em mantra sedutor. Quando abriu
os olhos a moça já estava lá em cima, e pode ouvir a voz de Rapunzel pela
primeira vez, definitiva e firme:
-
PRÓXIMO!
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