Sexta
feira voltei pra casa de lotação depois do trabalho, um fim de tarde quente e
abafado, as pessoas cansadas da semana de rotinas. Sentei ao lado do motorista,
ele me disse: "- Esta é a melhor hora do dia, quando eu chego em casa a
minha menina de dois anos traz as minhas sandálias pra eu descansar." Para
segurar o pranto perguntei o nome da menina e ele disse "Celeste, ela se
chama Celeste." O céu de Brasília era esplendoroso e as minhas lágrimas
balsâmicas e curativas. Lembrei de como o meu pai deitava a cabeça no meu colo
depois do almoço quando eu era uma menina para um cochilo antes de trabalhar. E
quis agradecer ao motorista e dizer pra ele que é assim que as meninas se
preparam para o amor. Desci em prantos da lotação e fui ao mercado comprar
abóboras verdes e ração para os gatos. Queria contar pra todo mundo na rua:
estou voltando pra casa, estou finalmente voltando pra casa. E caminhei certa e
firme carregando as compras rumo ao meu destino que é te encontrar e partir
para a nossa vida nova.
(Lélia
Almeida)
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