Cuidado
com a cueca que você usa, por Lélia Almeida.
A consulente me liga às 22hs chorando e
me diz, “você tem que me atender agora, estou desesperada e preciso ver as
cartas.” Sinto pela sua voz que a coisa é séria e digo que ela pode vir. Ela
senta ofegante na frente das cartas enquanto sirvo um chá de erva-doce e ela
mais branca que um lírio, tenta se acalmar.
“Tu não sabe o que eu fiz ontem”, ela
começa.
JR, que é como ela chama o marido foi buscá-la
no trabalho e deixou- em casa com um beijinho na bochecha, dizendo, “Tchau,
minha linda”, às 18hs dizendo que ia pro jogo do Inter, que era às 22hs. É claro
que ela só se deu conta sobre a disparidade dos horários depois que o carro já
tinha dobrado a esquina. Mas aproveitou a noite para lavar e fazer uma escova
nos cabelos e descansar um pouco. Às 23:53 chegou a mensagem pelo watts: “Oi.
Não vou voltar. Amanhã conversamos. Boa-noite.”
Ela pegou o pau que ele guardava atrás
da porta da casa para se proteger de possíveis assaltantes e saiu rua afora
sabendo onde encontrá-lo. O carro dele estava na frente da casa da vadia. Não
sabe de onde veio tamanha força física, diz, e começou estraçalhando o vidro
detrás do carro, depois o do frente, o das portas e quando estava arremetendo
contra o capô a porta da casa abriu e saiu o tal JR de cuecas e a vadia de body
oncinha e sandálias de plataforma douradas. A vadia (que não fiquei sabendo o
nome até agora) gritava que ia chamar a polícia enquanto JR tentava tirar o
pauzão da mão dela. A polícia veio imediatamente, colocou os três na viatura e
rumou para a delegacia na frente de uma vizinhança encantada com o furdunço.
A delegada era uma mulher imensa com uma
cara de poucos amigos e que naquele momento devorava um xis com uma coca 2
litros. E de boca cheia perguntou: “- Que putaria é esta aqui no meu
estabelecimento?” Eu disse, ela contou: “-É simples, doutora, eu quebrei o
carro dele porque ele é meu marido e estava na casa desta vadia”. A delegada
disse, “- Sai todo mundo daqui que hoje to com os corno virado, saiam já daqui!”
– “Mas a senhora não vai prender esta louca?” perguntou a oncinha. A delegada
viu então que a cueca do tal do JR era do Inter e perguntou se o elemento era
colorado. A consulente disse que sim, e que ele era fanático. Ela ordenou ao
policial: “- Tire a cueca do donjuan e mande os dois embora, sem carona viu, a
pezito nomás, se fosse gremista eu continuava a conversa, e já pra fora com
esta bagacerada que tô começando a ficar com enxaqueca”.
JR, agora transformado em elemento, saiu pelado com as mãos em concha sobre o membro murcho e a consulente foi pra casa
aliviada arrastando o pau redentor.
Perguntei o que ela queria saber das
cartas, ela disse que agora nada, e tirou da bolsa duas latinhas de cerveja bem
geladas explicando que o que precisava mesmo era de uma amiga para comemorar.
Assim estão as pessoas.
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