Os
meus, por Lélia Almeida.
Ri
muito com alguns posts realmente engraçados e inteligentes da Hashtag
#meuamigosecreto, que denuncia o machismo e o abuso no cotidiano. Mas
confesso que estou meio cansada desta história de que quando se fala em
sexualidade feminina só se fala em abuso e maus tratos, simplificando de uma
maneira radical que as mulheres são unicamente vítimas e os homens agressores e
babacas. De minha parte e experiência conheço e convivo com homens maravilhosos
e mulheres machistas, manipuladoras e cretinas. Já escrevi muito sobre isto por
aqui, mas este reducionismo faz com que as mulheres permaneçam sempre
cristalizadas num lugar de vítimas esquecendo toda a complexidade e grandeza
que é um encontro sincero e feliz entre os homens e as mulheres. Tive dois bons
companheiros com quem vivi alguns anos, com um deles tive um filho, tive
namorados e amantes inesquecíveis e generosos que me ensinaram a crescer e
desabrochar, fui chifrada umas quantas vezes e tive alguns grandes enganos, mas
não desisto.
Tem
coisas que só converso com homens, e só entendo quando eles me explicam.
Meu
irmão outro dia me explicou, didaticamente, o que era lavagem de dinheiro e o
meu outro irmão me deu uma aula sobre energia eólica, coisas que eu pensei que
sabia, mas que não sabia, com aquele jeito prático que às vezes só eles sabem
dizer. Meus irmãos são ciumentíssimos de mim até hoje, protetores e meus
grandes amigos, pesem todas as nossas dificuldades e períodos longos de
distância e saudade. Meus primos homens também me acolhem, me prestigiam e me
cuidam e adoro estar com eles. Mostraram-me mundos inusitados e me apontaram
horizontes fartos na troca dos livros e músicas na adolescência, e sou grata,
gratíssima, na verdade, por nunca terem me tratado como uma debilóide porque eu
era uma mulher. Meu avô me chamava de “pequena camotinha”, rindo da menina
furiosa que eu era. Tenho amigos queridos que me dão colo sem que eu precise
pedir e nunca falamos muito, eles estão ali e sei que olham por mim, uma vida
inteira. E tenho um filho homem que me ensina coisas de mim mesma que jamais
aprenderia de outra maneira. O nosso amor vinga forte ao longo da nossa vida
juntos. Gosto dos homens, simples assim. Da energia deles, do fato de sermos
diferentes em tudo e da companhia deles, do jeito que eles me olham e tomam da
minha mão.
E
gosto do meu pai, o pai mais amoroso do mundo, que na última vez que estive com
ele, caminhando abraçados embaixo das árvores no sítio, me disse, finalizando
uma conversa difícil: - “Olha pro sol, gordinha, que as sombras todas ficam pra
trás.”
Um comentário:
E a luz do sol é toda sua! Que texto ótimo. Exatamente, os homens são fantásticos.
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