segunda-feira, 2 de junho de 2008

Homenagens às mães, de Lélia Almeida.

[...] Pensar contra si mesmo é freqüentemente uma atitude fecunda; mas no caso de minha mãe a história era outra: ela viveu contra si mesma. Rica em apetites, empregou toda a sua energia para reprimi-los e suportou essa renúncia convertendo-a em cólera. Em sua infância, comprimiram seu corpo, seu coração, seu espírito, num espartilho de princípios e interdições. Ensinaram-na a apertar ela mesma, com firmeza os cordões. Subsistia nela uma mulher corajosa e arrebatada; mas contrafeita, mutilada e estranha a si própria.

De Simone de Beauvoir, quando conta a morte de sua mãe no seu inesquecível Uma morte muito suave.



Camille Paglia, em entrevista recente, disse que o feminismo contemporâneo não atende mais às demandas das mulheres e que as mulheres têm de voltar a refletir sobre a centralidade da maternidade em suas vidas.
Quem diria, quem-te-viu-quem-te-vê!
Tenho de concordar com a Paglia, de quem já discordei muitas vezes em outros tempos. No Brasil, atualmente, quanto mais o feminismo se institucionaliza, mais longe das mulheres ele se coloca, muito embora esta discussão não caiba numa homenagem.
Erica Jong, outra ilustre feminista americana, já alertou que o simples fato dos peitos femininos reagirem em abundância de leite ao choro de uma criança, nos deu um determinado lugar na história do mundo, para o bem e para o mal, diga-se. E que este lugar não deve ser subestimado como querem determinadas feministas.
E quando o assunto é a enigmática identidade feminina não avançamos muito além das discussões sobre o papel fundamental dos pais na vida de suas filhas. Mas outra discussão se impõe e essa, diferentemente de outros países, nunca foi levada a termo pelo feminismo brasileiro. E o foi de maneira bastante superficial pela nossa literatura. A verdade é que a grande encrenca da vida das meninas e sobre a qual elas devem refletir com atenção ao longo de uma vida, são as suas mães.
No entanto, as teóricas feministas italianas, espanholas, francesas ou as mexicanas, e outras centenas de mulheres ficcionistas, no mundo inteiro, têm se ocupado deste tema de maneira quase sempre original e comovente.
Lembrei da representação de algumas figuras maternas que me foram caras, tanto no cinema como na literatura. E que me fizeram pensar sobre o intrincado fenômeno da maternidade na vida das mulheres.
Listas são expedientes que primam pela injustiça, pelo esquecimento e pela incompletude. Os filmes e livros que seguem não são, necessariamente, aqueles que considero os melhores sobre o tema, inclusive, porque gosto muito de alguns que nem considero tão bons. Mas que apresentam figuras maternas e reflexões importantes sobre a maternidade e que me fizeram pensar sobre o assunto.

No cinema,

1. Tudo sobre minha mãe do Pedro Almodóvar.
2. A excêntrica família de Antonia de Marleen Gorris.
3. Sonata de outono de Ingmar Bergman.
4. O clube da felicidade e da sorte de Ang Lee.
5. Minha mãe é uma sereia de Richard Benjamin.
6. Colcha de retalhos de Jocelyn Moorhouse.
7. Eclipse Total de Taylor Hackford.
8. A história oficial de Luis Puenzo.
9. A escolha de Sofia de Alan Pakula.
10. Quatro meses, três semanas e dois dias de Cristian Mungiu.
11. Correndo com tesouras de Ryan Murphy.
12. Café da manhã em Plutão de Neil Jordan.
13. Filhos da esperança de Alfonso Cuarón.
14. Kill Bill, vol 2 de Quentin Tarantino.
15. La luna de Bernardo Bertolucci.
16. Mamãe faz cem anos de Carlos Saura.
17. A outra de Woody Allen.
18. A criança de Jean Pierre Dardenne e Jean-Luc Dardenne.
19. Quase famosos de Cameron Crowe.
20. Laurel Canyon de Lisa Cholodenko.

Na literatura,

1. Uma morte muito suave de Simone de Beauvoir.
2. O Penhoar chinês de Rachel Jardim.
3. Paula de Isabel Allende.
4. Os cisnes selvagens de Jung Chang.
5. Medo aos cinqüenta de Erica Jong.
6. O amante de Marguerite Duras.
7. Há vinte anos, Luz de Elza Osório.
8. A caixa de santinhos de Esperanza de Maria Amparo Escandón.
9. A hóspede especial de Sue Miller.
10. Bondade de Carol Shields.
11. A falta que ela me faz de Joyce Carol Oates.
12. A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas de Maria José Silveira.
13. A morte da mãe de Maria Isabel Barreno.
14. A senhora dos sonhos de Sara Sef.
15. As Mulheres de Tijucopapo de Marilene Felinto.
16. Notícia da cidade selvagem de Lídia Jorge.
17. A história da Aia de Margaret Atwood.
18. Hanna e suas filhas de Marianne Fredriksson.
19. Como água para chocolate de Laura Esquivel.
20. Dicionário de nomes próprios de Amélie Nothomb.

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