sábado, 12 de fevereiro de 2011



POLITICK MEMORYHOUSE STROKE

Pedro Domingues.

Depois de um dia de dor seca com essa família de eternos estranhos
vem uma memória que me faz chorar e me trás de volta:
a baleia que canta "Fígaro" com três gongos de goela.

O amor de mãe vem pelas árvores
correndo em minha direção
eu me sinto, eu sinto ela.

Eu me lembro quando ela fez pipoca
tentando nos trazer de volta da horrível monotonia de um domingo perdido.
Estou sob sua asa novamente,
sentindo seu coração,
enquanto a baleia do desenho animado canta por um futuro em um mar escuro e
por um futuro sem tanto medo.

Minha mãe é minha baleia,
minha mãe é meu perdão para longe de todos os venenos
que correm pela terra.

Minha mãe é meu amor,
todas as mulheres do começo ao fim.

Ela é meu furacão
numa terra de comodidade emocional e negação.
As lágrimas ainda correm por dentro
deste mar atrás do olho
que eu aprendi a observar através dela.

Ele começa onde esta terra seca termina,
este segundo poder.
Então me transformo em poeta novamente
para estar próximo dela
para atravessar como um furacão
novamente ao mar com todos os membros
desta doce e brutal resistência
VIVA LA RESISTENCE!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011





Para o Zé, de Adélia Prado:

Eu te amo, homem, hoje como toda vida quis e não sabia, eu que já amava de extremoso amor o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos de bordado, onde tem o desenho cômico de um peixe — os lábios carnudos como os de uma negra.

Divago, quando o que quero é só dizer te amo.

Teço as curvas, as mistas e as quebradas, industriosa como abelha, alegrinha como florinha amarela, desejando as finuras, violoncelo, violino, menestrel e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo o teu coração, o que é, a carne de que é feito, amo sua matéria, fauna e flora, seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas perdidas nas casas que habitamos, os fios de tua barba.

Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
"Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros".

Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.

Te alinho junto das coisas que falam uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece, tira de mim o ar desnudo, me faz bonita de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega, me dá um filho, comida, enche minhas mãos.

Eu te amo, homem, exatamente como amo o que acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando os panos, se alargando aquecido, dando a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.

Amo até a barata, quando descubro que assim te amo, o que não queria dizer amo também, o piolho.

Assim, te amo do modo mais natural, vero-romântico, homem meu, particular homem universal.

Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.

Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,a luz na cabeceira, o abajur de prata; como criada ama, vou te amar, o delicioso amor: com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso, me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles eu beijo.