Na 5ª. Edição da
Semana de la en Rosario (SLR), na Argentina, que aconteceu no período de 21 a
27 de abril de 2014, em centros culturais, bibliotecas e espaços públicos com a
temática As mulheres e a leitura. A minha
palestra que se chamou Las chicas malas
de la literatura de autoría femenina. Panorama de producción literaria hecha
por mujeres en América Latina, aconteceu no Centro Cultural Fontanarrosa quando fui apresentada pelo professor Rubén Chababo.
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Quem
cuida das nossas meninas? por Lélia Almeida.
Até
a presente data, cumprindo com uma triste tradição, o anúncio do nascimento de
uma menina, para muitas famílias em muitos lugares do mundo, é motivo de
infelicidade e rejeição. Os artigos desta publicação, O Livro Negro da Condição
das Mulheres (OCKERENT, Christine & TREINER, Sandrine. O Livro Negro da
Condição das Mulheres. Rio de Janeiro; Difel, 2011) elenca os tipos de
violências sofridos pelas mulheres e meninas no mundo inteiro perpetuando
assim, tristes práticas em diferentes países. A realidade de grande parte das
mulheres do mundo inteiro é a de mulheres pobres, mal alimentadas, doentes e
iletradas e que servem para serem submetidas, exploradas, espancadas, violadas,
compradas, repudiadas. Destinadas ao silêncio, ao esquecimento. Em suma,
desprezíveis e indignas (p.18)
A
publicação se organizou ao redor de cinco palavras-chave: segurança,
integridade, liberdade, dignidade, igualdade, apresenta detalhadamente os
diferentes tipos de crimes a que são submetidas as mulheres e meninas no mundo
inteiro.
A
referência às “mulheres faltantes” sobre os lugares do mundo onde há mais
homens do que mulheres (principalmente em imensas partes da Ásia, na Índia, no
Paquistão, em Blangadesh, na China) sobre a imensa quantidade de mulheres
mortas mostra a dimensão da hostilidade e rejeição de muitas culturas e
sociedades ao nascimento das meninas.
Fala-se
na prática do aborto seletivo dos fetos femininos, na Índia principalmente,
realizada a partir do resultado das amniocenteses, feitas para detectar
anomalias, mas usadas de fato para saber o sexo dos bebês e poder assim
proceder á rejeição, via aborto e interrupção das gestações de meninas (p.26)
As
que sobrevivem poderão ser vítimas de infanticídio ou de sobremortalidade: as
meninas serão menos alimentadas que os meninos e receberão menos cuidados se
ficarem doentes, serão levadas ao médico em estágios terminais das doenças e
serão menos vacinadas (p.27)
Outra
questão que vai contra a sobrevivência das meninas de muitos países é que o
pagamento do dote empobrece as famílias e, portanto, esta é mais uma razão para
que o seu nascimento não seja desejado.
Na
China, por exemplo, a prática do filho único, a partir de 1978 decuplicou os
esforços de eliminação de meninas.
A
detecção do sexo do feto disfarçada em pesquisa de anomalias, o aborto
seletivo, o infanticídio e o abandono de meninas recém-nascidas em
orfanatos-asilos terminais tomaram tal proporção que as autoridades chinesas
precisaram abrandar, na zona rural, a proibição de ter um segundo filho. Os
camponeses receberam autorização de ter um segundo bebê se, por infelicidade, o
primeiro tiver sido uma menina. (p. 29)
Na
África, sobre uma imensa parte do continente, a quase totalidade das meninas é
mutilada (p.30), mais de 85 milhões de meninas não são escolarizadas (p.31)
pois tem de trabalhar. Da mesma maneira, em muitos lugares do mundo, as meninas
são vítimas da indústria do sexo e vítimas das guerras e são, comumente,
transformadas em escravas sexuais durante os conflitos armados. Elas também são
vítimas dos tráficos de esposas, estupradas como estratégias de limpeza étnicas
durante as guerras ou mortas em nome da honra.
Mas
esta realidade é pouco conhecida e, portanto, pouco denunciada. As políticas
públicas de prevenção à violência priorizam as mulheres adultas ou os jovens e
adolescentes do sexo masculino. Para Negrão e Prá (Ver in: Dossiê – Violência
de Gênero Contra Meninas) embora as meninas sejam elemento de análise das áreas
sociais ou da saúde, sua presença ainda é pouco explorada e isto se deve ao
fato de que o enfoque centrado na realidade da mulher adulta dificulta a
percepção das especificidades que demarcam o universo das mais jovens; de outro
lado, em razão da juventude ser examinada como se fosse assexuada (p.14) Além
do problema de delimitar as fronteiras entre adolescência e juventude e as
dificuldades para situar as meninas como sujeito e objeto de estudo (p.15)
O
episódio do sequestro de 276 meninas na Nigéria pelo grupo islâmico radical
Boko Haram e a adesão internacional pela campanha que pede pela liberação das
meninas, "Devolva nossas meninas", atualiza uma pergunta que fica sempre
sem resposta, no Brasil e no mundo: afinal, quem cuida das nossas meninas?
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Estive numa palestra
onde as autoras se diziam decentes e éticas em relação ao seu trabalho (duas
delas eram jornalistas), que respeitavam as fontes, os testemunhos e que não
misturavam o ofício de escritora com o de jornalistas bla bla bla. Me senti péssima
naquele universo tão ético e perfeito. Eu que roubo como uma mendiga avarenta e
voraz as histórias de todo mundo, uso frases que ouço das pessoas,
transformo-as nas falas dos personagens, faço dos meus amigos personagens, me
senti o ó da coisa horrorosa. Eu que minto e nem sempre sou ética e que sou
capaz de tudo em troca das boas histórias, me senti a última das criaturas na
frente daquele panteão de gente legal e decente. Quem escreve mente, trapaceia,
brinca, engana, estende armadilhas, vai num churrasco e ouve uma conversa banal
e alguém fala Lia, e agradeço a interlocutora, porque a minha próxima
personagem vai se chamar Lilia, mas só decido ali, naquele momento em que
aparentemente escuto aquela desinteressante história de amor e separação, mas
estou com o pé, um pedaço da alma, lá, no outro mundo, de onde nunca saio
totalmente, no laboratório, desamparada, desolada, escrevendo, inventando. Sem
pensar se sou suficientemente boa ou certa ou decente, pois a literatura é
feita de uma matéria prima outra, e vem de um lugar onde a preocupação em
agradar ou ser legal não tem muita cabida.
(Lélia Almeida)
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