sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fui buscar a Sofia na escola, a minha sobrinha. Fim de tarde, avós, pais e mães buscando as crianças, uma confusão de gentes e correria. Vejo a minha menina procurando,os olhos dela me encontram, duas jabuticabas sorrindo. Ela vem correndo e se abraça em mim. Delícia de abraço. Menina suada, fim de tarde, vamos rumo ao entardecer as duas, de mãos dadas e felizes.
Amor é reconhecimento.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Declaração de amor:

A coisa precisa ficar séria. Estive muito sozinha, mas nunca vivi sozinha. Quando estava com alguém, me sentia feliz, mas, ao mesmo tempo tudo parecia coincidência. Aquelas pessoas eram meus pais, mas poderiam ter sido outras. Por que esse rapaz de olhos castanhos é meu irmão e não aquele de olhos verdes do outro lado da plataforma? A filha do taxista era minha amiga, mas eu poderia ter igualmente ter colocado o braço em torno do pescoço de um cavalo. Estive apaixonada por um homem. Eu poderia igualmente tê-lo abandonado e partido com um estranho que cruzou conosco pela rua. Olhe para mim ou não. Me dê sua mão ou não. Não, não me dê sua mão, desvie o olhar. Hoje é noite de lua nova, noite muito tranqüila, sem derramamento de sangue pela cidade. Nunca brinquei com ninguém, apesar disso nunca abri os olhos e disse: “Agora é sério”. “Finalmente é sério”. Assim, fiquei mais velha. Era eu a única que não era séria? O tempo não tem nada de sério? Nunca fui solitária, nem quando estive sozinha nem acompanhada. Mas eu teria gostado de ser solitária. Solidão significa o seguinte: finalmente estou inteira. Agora posso afirmar isso, pois hoje me sinto solitária. As coincidências precisam ter um fim. Lua nova das decisões. Não sei se existe destino, ma existe decisão! Decida! Nós agora somos o tempo. Não apenas a cidade, mas o mundo todo tem parte na nossa decisão. Agora nós dois somos mais do que dois. Encarnamos algo. Estamos na praça do povo e a praça está cheia de gente que deseja o mesmo que nós. Estamos decidindo o jogo de todos. Estou pronta. Agora é a sua vez. O jogo está em suas mãos. Agora ou nunca. Você precisa de mim. Você vai precisar de mim. Não existe história maior que a nossa, a de um homem e uma mulher. Será uma história de gigantes. Invisível, contagiosa, uma história de novos ancestrais. Veja os meus olhos. Eles são o retrato da necessidade, do futuro de todos os que estão na praça. Ontem à noite sonhei com um estranho, com o meu homem. Apenas com ele eu poderia ser solitária, me abrir para ele, totalmente. Recebê-lo em mim como um ser inteiro. Envolvê-lo num labirinto de felicidade partilhada. Eu sei que ele é você.

Cena, quase final, do filme "Asas do Desejo", do original alemão "Der Himmel über Berlin", de 1987, dirigido por Wim Wenders.