Poderosa
Delami, por Lélia Almeida.
Delami
abre as cartas comigo tem oito anos já. Atravessamos juntas a sua década dos
cinquenta e posso dizer que ela o fez com graça e sabedoria. Uma mulher
daquelas que a gente quer ser quando crescer. Por conta da menopausa Delami foi
fazer terapia e questionou profundamente a sua vida.
Ontem
me telefonou para marcar a consulta e me disse muito contente, "tive alta
da terapia", eu disse que estava doida pra saber da novidade. Por conta de
um casamento nefasto com um homem infantil, Delami sempre viveu pela metade, a
espera que o marido voltasse dos seus inúmeros casos. Percorreu os terreiros,
as casas espíritas, as igrejas todas até enveredar pelas terapias alternativas
e hoje podemos dizer que foi o Reiki que salvou a vida de Delami.
Na
entrada principal do Conjunto Nacional um homem entregou-lhe o cartão do
atendimento de Reiki e ela, em sua busca frenética para conhecer-se melhor e
assim transformar-se numa mulher perfeita para o marido fujão, marcou uma
sessão com o cara para o dia seguinte. Era uma sala pequena na Asa Norte, uma
sala meio precária a bem da verdade, que aquele homem jovem preenchia
soberanamente. Ele explicou sobre os benefícios do Reiki, fez com que ela
deitasse numa maca, acendeu incenso e colocou um cd com mantras indianos e começou
a falar muito mansamente. Pediu que Delami pegasse o bombom que ele oferecia e
que o colocasse no coração dizendo que via uma menina muito magoada e
ressentida e que naquele momento ela devia perdoar ao pai, a mãe, ao marido e
dissesse “da doçura do meu coração, eu te perdoo”, que repetisse algumas vezes,
o que deixou Delami nervosa porque sentia que o bombom ficava quente e podia
derreter.
Depois
de muito repetir o mantra ele passou-a para outra sala e pediu que ela deitasse
de barriga pra baixo numa maca quase na altura do chão e que tirasse a roupa.
As mãos daquele homem eram firmes e massageavam as costas de Delami. O homem
então deitou em cima do seu corpo pequeno, massageou seus braços e sussurrou:
“não se preocupe, nada de ruim vai acontecer”. Delami confiou naquela voz e na
sabedoria do seu corpo que abria as pernas, a boca e os braços sem titubear. A
sessão de Reiki durou três luxuriosas horas onde Delami descobriu-se uma mulher
jamais imaginada e por quem se apaixonou imediatamente.
Viu-se
escabelada e cheia de cores no espelho do elevador, os lábios inchados, era
outra. “Mandei uma mensagem para o meu terapeuta e disse a ele que não ia mais,
fui eu mesma quem me deu alta”, ela disse. Eu perguntei o que tinha este homem
de tão especial para que provocasse tamanha transformação. “Nada de especial”,
ela me disse, ”Aliás, o que mudou a minha vida não foi o que aconteceu naquela
cama, mas o que aconteceu depois. Depois quando me vesti e ele estava de jaleco
outra vez me esperando pra abrir a porta. Foi quanto perguntei quanto era a
sessão. Oitenta real, ele respondeu”. Delami estendeu as notas ao homem, ela
era muitas agora, era amiga de todas as mulheres do marido, ela era poderosa. E
o prazer que ela sentiu ao estender as notas não chegava nem perto de qualquer
outro experimentado momentos antes.
A
Delami que abre os arcanos hoje parece uma menina, alegre e risadeira, e pensa
na possibilidade de fazer, à brevidade, um curso de Reiki.