sábado, 8 de outubro de 2011
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Saudades do Fausto Wolff:
(...) Cada homem tem o seu caminho e a sua missão. À medida que caminha, sua missão torna-se mais e mais clara. (...) Acredito que todos os homens trazem dentro de ti a chama divina. Isso nos provam os poetas, os grandes artistas, os cientistas que, entretanto, estão longe da perfeição. (p.359) (...) - Quando menino sofri muito por sua causa. - disse Joel - Na adolescência, cheguei à conclusão de que o senhor não era importante para meus ideais. A perfeição da natureza informava-me da sua existência, mas não conseguia imaginar alguém tão solitário e com tamanhos poderes. Cheguei à conclusão de que todos nascemos para desempenhar um papel no sentido de dar sua contribuição para a evolução do homem; para seu entrosamento harmônico com a natureza. Acreditei que se desempenhasse meu papel honestamente não teria por que me preocupar com a existência de Deus. Se ele existisse, certamente não seria vingativo e nem me castigaria por meus insignificantes pecados. Se me cobrasse, na hora da minha morte, eu estaria pronto para demonstrar que fizera a minha parte. (p.250).
Fausto Wolff, in: Olympia. Belo Horizonte: Leitura, 2007.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
"E por que haverias de querer minha alma na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas, obscenas,
porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo, prazer, lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando Aquele Outro.
E te repito: por que haverias de querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me."
Hilda Hilst.
"Ouse, ouse... ouse tudo!! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda ... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!"
(...) uma decadência lenta de todos os ‘deve-se’, a morte dos envoltórios de minha vida que parecia apodrecer. Tive que aceitar essa lentidão e o aniquilamento daquilo que eu julgava ser eu mesma. O medo sempre presente de, ao sacrificar o meu velho e competente eu social, acabar morrendo também. Mesmo assim, nesse local depressivo, onde senti a inércia no abraço da matéria total a me envolver como cimento, está presente uma liberação de energia tão profunda que me faz perceber outro sentido de tempo – só sei que minhas unhas cresceram, e preciso cortá-las de novo.
Chego ao que é baixo e lento, não o humano e quente, mas o desapegado. Muito além da idéia de significado ou não significado.
PERERA, Sylvia. In: Caminho para a iniciação feminina. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
Sabedoria de salão, por Lélia Almeida.
Saibam, há algumas coisas em comum entre os salões mais ricos e os mais modestos de Brasília. As manicures são todas moças batalhadoras, vindas dos confins de todos os estados brasileiros e estão ali, de cabeça baixa, trabalhando nas nossas cutículas, certas de que vão dar certo na capital do país. Sei disto, porque converso com todas elas.
Num salão muito chique de Brasília, uma típica perua brasiliense, cheia dos brilhos, conta que foi ao show do Roberto Carlos. É uma mulher negra, belíssima, de corpo escultural e cabelão comprido alisado. Com lâminas coloridas nos cabelos besuntados de tinta, vestindo batas brancas que lembram imensos babadouros salivamos de inveja do que ela conta. Que foi, vestida de lamê, coque alto, ao lado do seu marido rico e ciumento, no show do Roberto Carlos. O rei atirou uma flor especial para ela enquanto um segurança saradíssimo veio dizer que o rei queria vê-la no camarim depois do show. Ela não foi. O marido a arrastou pelo braço, furioso no meio do espetáculo.
Nos transformamos, todas, em juízas impiedosas dizendo que ela era uma burra, nossos babadouros transformados em togas de magistradas feministas e iradas. Onde já se viu, uma oportunidade daquelas! E ela saboreava a nossa inveja da sua vida farta de homens – o marido, o rei, o segurança incluído – enquanto escolhia vermelho rebu para as longas unhas que nunca passaram perto de um fogão! A inveja não é verde, pensei, a inveja é vermelho rebu. A manicure que massageava as minhas mãos disse para a pedicure: “- Fazendo cu doce com o rei, nunca vi disso!”
Num salão muito popular de Brasília, na rodoviária, uma mulher mulata e muito gorda, decote avantajado, vestido estampado e muito justo, cabelo crespo e vermelho, conta em alto e bom tom para não deixar dúvidas sobre quem é, que já fez muitos homens felizes na cidade: “- Porque comigo não tem fricote, eu posso dizer com o maior orgulho que sou uma boqueteira prestigiada na praça e que chupo porque gosto e que tem homem de todo o país querendo casar comigo, mas não caso, não, eu adoro a vida que levo, e já comprei a minha casinha e o meu carro.” Fez todo este discurso sob o olhar estupefato da dona do salão que estava no caixa recebendo os pagamentos. O salão veio abaixo em aplausos e assovios.
Ponto de vista, eu pensei. É tudo uma questão de ponto de vista! E tem umas que, certamente, estão se divertindo mais do que as outras.
Façam as suas escolhas, meninas!
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Tomei seu rosto entre as minhas mãos e disse: "eu não conheço você, não sei quem você é e, portanto, não tenho porque fazer poses e nem dizer o que não sinto, e então posso dizer que quero ficar aqui, com seus rosto entre as minhas mãos, para sempre", "eu sei", ele disse, "não precisa dizer, eu já sei". "E guarde esta boa recordação, que los buenos recuerdos endulzan la vida. "
domingo, 2 de outubro de 2011
Encontrei com aquele amor de adolescência muitos anos depois, éramos os mesmos, apesar dos cabelos brancos, rugas, dentes comprometidos e o corpo sem vigor, agora. O brilho do olhar era o mesmo e a força das mãos também, ele disse: "somos os mesmos", eu disse: "o tempo do amor é perene, ainda que todo o resto mude". Meninos velhos de coração aquecido e loucos pelos mesmos beijos de outrora.
Quando saía de madrugada daquela casa que me acolhia durante as noites e ficava esperando o táxi para voltar para a minha vida real, a minha primeira visão do mundo era a de uma rua deserta que tinha, na calçada oposta, uma casa de tijolinho a vista com uma uma profusão de azaléias debruçadas sobre o muro. Esta era a paisagem que eu via quando saía daquele lugar onde eu queria ficar, permanecer, não partir jamais, e voltar sempre. Ainda não consigo sair de lá e voltar pra casa. Voltar pra mim.
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