segunda-feira, 3 de setembro de 2012





Lagarta, por Lélia Almeida.

A astróloga disse que estou no momento da metamorfose, me deu de presente a metáfora da transformação da lagarta em borboleta. Fui perguntar a quem mais conhece do assunto, minha mãe, a bióloga, a que sempre tem as respostas. Ela disse que este é um dos grandes mistérios da vida, de como a larva constrói o casulo, as células se organizam de outra maneira, disse a minha mãe-mestra, e de como a borboleta, pronta, com cores e padrões únicos, rompe o casulo. Respirei tranquila entendendo a fome que me mata nestes tempos em que a morte se mistura com a vida e a lagarta sorve restos e migalhas por onde passa. Roubo, voraz, pedaços de queijo daqueles que se servem para degustação no supermercado, este queijo que é como um leite, um leite imprescindível, as asas sendo bordadas, a morte pronta, a morte que nunca esteve tão viva. Da borboleta que não vai reproduzir. Que vai transmutar.















Hoje fui lá visitar a minha a dor
aquela que me habita desde tanto tempo
encontrei-a anêmica, fraquinha,
quase sumida.
Então entendi que tem dores
que cansam da gente
e um dia são isto e nada mais,
uma dor vencida.

(Lélia Almeida)