domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ah, sim! Os seres humanos. É necessário um biólogo corajoso para aplicar estas novas descobertas sobre infidelidade entre os animais ao estudo das pessoas, pessoas que vociferam e continuam a insistir em conceitos como livre-arbítrio, consciência e imprevisibilidade. Ocorre que há um número considerável de intrépidos teóricos e muitos propõem que a enorme vontade humana de trair tem uma base na evolução.
Os bebês precisam de cuidados por muito tempo, o que, provavelmente, levou os casais a terem uma ligação forte logo no início de nossa evolução. Mas mesmo um homem feliz em seu casamento pode ser levado a uma escapada pela vontade de espalhar um pouco mais de seus genes na população. A mulher, por sua vez, pode querer ter relações sexuais com um homem que parece ter genes melhores ou que, pelo menos, lhe ofereça um pedaço de carne de zebra em troca de seus favores. Muitos biólogos especializados em evolução afirmam que os lapsos na monogamia ajudaram a desenvolver o ciúme sexual do macho, trazendo as desagradáveis manifestações culturais como a desfiguração genital das mulheres, o costume chinês de prender os pés das meninas para que estes não cresçam, e outros mecanismos pelos quais os machos controlaram os desejos das fêmeas. Embora a mulher tenha boas razões para sentir-se também com raiva das infidelidades do esposo, esta é geralmente em menor grau. Além disso, a mulher terá maior dificuldade para segurar o homem o tempo necessário para envolver os testículos dele em um protetor de ferro.
Mas as mulheres não são completamente indefesas. A evolução dotou-as de meios que as poupam de serem controladas de perto pelos homens, graças sobretudo à dádiva da ovulação críptica. Ao contrário das fêmeas dos macacos resos, as nádegas das mulheres não ficam vermelhas quando elas ficam férteis. Ao contrario das mariposas, elas não mandam para o ar feromônios que irradiam sua situação, nem ficam miando na janela como as gatas. Assim fica difícil para o macho controlá-la nos dias de ovulação.
Para melhor confundir os homens as mulheres têm seios. Entre os grandes macacos, peitos cônicos sinalizam que a fêmea está lactante e, portanto, tem baixo valor reprodutivo. Mas, entre os humanos, os seios permanentemente cheios são ambíguos e não revelam facilmente aos machos se elas estão férteis ou lactantes, novamente confundindo os esforços dos homens para restringir as atividades reprodutivas femininas. Talvez isso explique por que os homens são fixados em seios: eles estão procurando pistas. Pena é que eles estão olhando para os lugares errados.

NATALIE ANGIER em A beleza da fera. Novas formas de ver a natureza da vida. Ed. Rocco, 1998.