A
consulente leva a metade da consulta me contando que o marido é maravilhoso,
que a casa é linda, que os filhos são ótimos, que o trabalho é bárbaro e o
tanto que ela é feliz e realizada. Enquanto embaralho as cartas me pergunto
porque uma pessoa tão perfeita precisa de uma consulta do Tarot. Continuo
ouvindo o ventríloquo. Acontece com muitas. Até que acontece um gap, um
tropeço. E posso ouvir uma voz quase inaudível: Meu marido tem outra. Ou, meu
filho tá se drogando, ou, estou falida, ou, me sinto tão perdida. É a voz da
alma quebrada. Aí começa a consulta.
(Lélia
Almeida)