sábado, 10 de julho de 2010

Confissão:

Lélia Almeida.

Durante meses, através do Facebook, me assediou com insistência, um jovem escritor estrangeiro. Contava vantagens para me impressionar: que transitava entre nomes importantes, do tanto que viajava, do quanto era adulado, do tanto que era traduzido, vendido, publicado, do prestígio nas feiras de livros internacionais e eu pensava: é um chato. E fugia. Uma noite proferiu as tais palavras mágicas: não vá, preciso de você, preciso de colo, dê pra mim, me abrace forte, por favor. Eram 3hs da madrugada, eu via o filme sobre a vida da escritora Karen Blixen, aquele que conta a história da baronesa da Dinamarca na África. Estava bêbada de uma taça de vinho mendocino e chorando como uma bezerra desmamada, justo na parte em que o Robert Redford lava os cabelos da Meryl Streep, quando eles estão acampados num safári. Dei soberbamente para o rapaz, então, que insistiu ainda mais no assédio. Na vida, na literatura, no cinema, na rede,em se tratando de romance, é tudo igual: o que funciona é muita imaginação, uma taça de vinho, e umas poucas promessas mentirosas desenhadas agilmente no teclado.E sejam simples, rapazes, que as palavras mágicas ainda são as mais simples.

In: Anovaela. (Fragmento, texto inédito).