sábado, 9 de julho de 2011

Partir:

Lélia Almeida.

E chega um dia que aquela vida não serve mais, um gesto, um jeito de ser e de se portar, um jeito de gostar e de ser gostada, não serve mais. Não funciona mais a repetição automática de gestos e condutas, as mágoas nos deixam, cansadas de nós, as dores deixam de doer e os nossos sonhos também não são mais os mesmos. Tem um dia que é hora de partir, deixar os amigos que não perceberam as nossas transformações, os trabalhos que não nos gratificam mais e os amores que ficaram pra trás. Tem um dia que é o dia da partida. De arrumar uma mala pequena, onde se possa levar apenas o essencial, muito pouco, porque os começos pedem a leveza para os impulsos. Alguma coisa que já foi inteiramente nossa, não é mais, e não pode, então, partir conosco. No momento da partida pede-se a delicadeza da esperança, a fé no que não se conhece. Na hora da partida temos de saber que estamos indo ao nosso encontro. E com a certeza de que só tem uma vida nova quem entrega, definitivamente, a vida velha.