terça-feira, 13 de janeiro de 2009

... uma decadência lenta de todos os ‘deve-se’, a morte dos envoltórios de minha vida que parecia apodrecer. Tive que aceitar essa lentidão e o aniquilamento daquilo que eu julgava ser eu mesma. O medo sempre presente de, ao sacrificar o meu velho e competente eu social, acabar morrendo também. Mesmo assim, nesse local depressivo, onde senti a inércia no abraço da matéria total a me envolver como cimento, está presente uma liberação de energia tão profunda que me faz perceber outro sentido de tempo – só sei que minhas unhas cresceram, e preciso cortá-las de novo.
Chego ao que é baixo e lento, não o humano e quente, mas o desapegado. Muito além da idéia de significado ou não significado.

PERERA, Sylvia. In: Caminho para a iniciação feminina. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
Minha mãe é uma centopéia, assim como a minha filha. Às vezes, nossos passos se atropelam quando caminhamos arrastadamente com os nossos trezentos pés. Mas já deixamos nossas marcas, uma na outra, de milhões de maneiras. Partilhamos o mesmo DNA, os mesmos sonhos, a mesma ousadia. Molly está destinada a ser a mais ousada de todas, e isso corresponde à minha expectativa. Tantas gerações de mulheres a influenciaram. Tantas mães e avós colaboraram com a sua feitura. Que ela ouse seguir seus sonhos aonde que quer eles a levem! Sem ousadia, para que servem os sonhos? Sem ousadia, de que serviram as lutas de sua mãe, sua avó, sua bisavó? Não se engane, esses ancestrais estão nos observando. Se os desapontamos, desapontamos a nós próprios. Virginia Woolf disse: “Lembramo-nos do passado através de nossas mães, se somos mulheres”. E através de nós, nossas mães dirigem seu pensamento para o futuro.


Erica Jong.