quinta-feira, 26 de novembro de 2015


Os meus, por Lélia Almeida.

Ri muito com alguns posts realmente engraçados e inteligentes da Hashtag ‪#‎meuamigosecreto, que denuncia o machismo e o abuso no cotidiano. Mas confesso que estou meio cansada desta história de que quando se fala em sexualidade feminina só se fala em abuso e maus tratos, simplificando de uma maneira radical que as mulheres são unicamente vítimas e os homens agressores e babacas. De minha parte e experiência conheço e convivo com homens maravilhosos e mulheres machistas, manipuladoras e cretinas. Já escrevi muito sobre isto por aqui, mas este reducionismo faz com que as mulheres permaneçam sempre cristalizadas num lugar de vítimas esquecendo toda a complexidade e grandeza que é um encontro sincero e feliz entre os homens e as mulheres. Tive dois bons companheiros com quem vivi alguns anos, com um deles tive um filho, tive namorados e amantes inesquecíveis e generosos que me ensinaram a crescer e desabrochar, fui chifrada umas quantas vezes e tive alguns grandes enganos, mas não desisto.
Tem coisas que só converso com homens, e só entendo quando eles me explicam.
Meu irmão outro dia me explicou, didaticamente, o que era lavagem de dinheiro e o meu outro irmão me deu uma aula sobre energia eólica, coisas que eu pensei que sabia, mas que não sabia, com aquele jeito prático que às vezes só eles sabem dizer. Meus irmãos são ciumentíssimos de mim até hoje, protetores e meus grandes amigos, pesem todas as nossas dificuldades e períodos longos de distância e saudade. Meus primos homens também me acolhem, me prestigiam e me cuidam e adoro estar com eles. Mostraram-me mundos inusitados e me apontaram horizontes fartos na troca dos livros e músicas na adolescência, e sou grata, gratíssima, na verdade, por nunca terem me tratado como uma debilóide porque eu era uma mulher. Meu avô me chamava de “pequena camotinha”, rindo da menina furiosa que eu era. Tenho amigos queridos que me dão colo sem que eu precise pedir e nunca falamos muito, eles estão ali e sei que olham por mim, uma vida inteira. E tenho um filho homem que me ensina coisas de mim mesma que jamais aprenderia de outra maneira. O nosso amor vinga forte ao longo da nossa vida juntos. Gosto dos homens, simples assim. Da energia deles, do fato de sermos diferentes em tudo e da companhia deles, do jeito que eles me olham e tomam da minha mão.

E gosto do meu pai, o pai mais amoroso do mundo, que na última vez que estive com ele, caminhando abraçados embaixo das árvores no sítio, me disse, finalizando uma conversa difícil: - “Olha pro sol, gordinha, que as sombras todas ficam pra trás.”