sábado, 25 de dezembro de 2010

Acorda, minha filha, o bofe é casado!

Lélia Almeida.

Ele disse que você é a tampa da panela dele ou o chinelo do seu pé torto e que nunca imaginou encontrar uma mulher tão maravilhosa como você?
E convidou você pra sair numa terça ou quinta-feira, na semana das confraternizações de fim de ano, na época do indulto matrimonial?
E marcou cedinho o encontro?
E depois usou as exatas duas horas do motel, pagando nem um minuto a mais dos 55,00 real na promoção do luxo?
E 1h da madrugada a curiosidade tava liquidada?
E disse que estava saindo de uma relação enrolada?
E disse que o Natal era sagrado e que ele passava com os filhos?
E pediu o seu celula e não deu o dele?
Acorda, minha filha, o bofe é casado!!!
Tem homem que adora mulher doida:

Lélia Almeida.

Li esta frase da Maria Werner: “Em alguns contos de fadas, como na vida, (...) A capacidade das mulheres para amar e agir excedia tragicamente os limites a que podiam chegar em suas vidas – esse heroísmo auto-imolador era uma das poucas empresas cavalheirescas acessíveis a elas.” Pensei nas escritoras suicidas, que num gesto derradeiro, deram, historicamente, cabo de si mesmas, fazendo, desta maneira, que sua obra se sobrepusesse às suas vidas. Fiquei pensando como é que isto funciona com os homens e sem pensar muito no assunto só lembrei que tem homem que adora uma mulher louca, que vive enrolado com uma mulher louca, daquelas que tem uma vida cheia de grandes traumas e loucuras e que é exatamente isso o que os deixa fascinados, a adrenalina da doida. Muito feminino isto, em alguns homens, viver nesta vibração do drama e tragédia das doidas.
Mas gosto é que nem nariz, cada um tem o seu.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O estrangeiro:

Milan Kudera diz que amamos alguém quando somos capazes de criar uma metáfora, associar uma imagem poética ao nosso amor. Penso nele, no estrangeiro.
Desejos engarrafados:

Lélia Almeida.

No mercado Ver-o-peso de Belém tem garrafas onde está escrito: descarrego, vai-e-volta, aos teus pés, desatrapalha, pegadinho, agarradinho, pega quem tá longe, hei de vencer, comigo ninguém pode.
Comprei todas.
O tempo do abandono:

Lélia Almeida.

Na estação ferroviária abandonada, um relógio parado, um relógio Jeanneret e Krentel, redondo, de Pelotas, o vidro quebrado, os ponteiros intactos, VIII horas, e pichado na parede branca, com carvão: Márcio, me perdoa.