quinta-feira, 20 de maio de 2010

(...) O Ministro é um homem belo. Na verdade, um dos mais belos da corte. Por onde ele passa, com seu porte principesco, ressoam suspiros mortais. É um homem de estatura alta e formas perfeitas, dentes exatos e mãos grandes. Beleza, muitas vezes, é simplesmente proporção. Quando ele passa todos nos sentimos assim, com vontade de ser belos. Mas a mim ele nunca enganou. Tem olhos tristes e mão frouxa na hora do cumprimento. E homens assim, com a licença da informalidade, não dão no tranco.
O Ministro jamais olharia com interesse para uma mulher como eu. De carnes fartas e olhar curioso. Mas sua ascendência árabe falou mais alto. Os seus absconsos genes de lúbricos sultões orientais, que se esfregaram em odaliscas de pele alva, olhos delineados e bugigangas douradas, o traíram.
Mas isso ele só descobriu naquele fim de semana em que tivemos que nos encerrar juntos em lugar quedo e não sabido, para terminar a apresentação do Plano Nacional na minha casa, longe de tudo e de todos.
Ali ele se desvelou. E se revelou. Tal qual um príncipe que gostava de brincar de ser um escravo ou um grão-vizir transformado em criado. E eu, a mais leal e subalterna das assessoras, transformada agora numa princesa oriental.
Ele me pediu, então, que para este fim de semana de trabalhos, e para que o tempo rendesse ao máximo, que eu elaborasse um manual de instruções.


Instrução no. 1

Meu caro Ministro, vamos nos encontrar e cumprir com as regras da civilidade, não se preocupe. Iremos até a minha casa e arranjaremos algo para comer, vou me permitir um tratamento menos formal para estes dias de trabalho, o que facilitará também o resto. Você abrirá o vinho e eu providenciarei o jantar. Neste momento, ainda no início dos preparativos, você deverá deixar a cozinha para arranjar-se, eu irei até o meu quarto passando pelo corredor interno, você estará se aprontando no seu aposento e não nos encontraremos. Deixe tudo como está, o vinho aberto e a comida por fazer. As portas do meu quarto estarão fechadas, também as janelas, a escuridão será intensa. Haverá, na maçaneta da porta, uma máscara, destas que se usam nos aviões para dormir. Vista-a, nós não poderemos nos ver até que eu ordene. Trate de estar devidamente pronto, ou seja, com uma ereção completa. Você vai adivinhar o local da cama, onde estarei a sua espera. Não tire a roupa, eu também estarei vestida, será muito rápido, pois teremos o jantar a meio andar. Dispa-se o mínimo possível, o suficiente para o que deve realizar. Vou estar de costas, não nos veremos, vou estar, na verdade, de quatro, as carnes muito brancas reluzindo na escuridão da peça, apenas descobertas. Não haverá beijos, nem olhares, nem carícias, nem promessas, importantíssimo, nada de preliminares, nada de preparação. Você entrará no quarto, adivinhará meu corpo sobre a cama e simplesmente me penetrará, por trás, com força. Me penetrará com firmeza, até gozar. Não se preocupe com nada, vou conduzi-lo com rigor, estarei pronta, a espera, e você, simplesmente, cumpra com as instruções. Só isso, me penetre com força até gozar. Só você deverá gozar, este é o acordo, que você goze, e sem tardança. E que depois se retire então, de volta para a cozinha onde nos encontraremos para continuar a preparação do jantar. A brancura da minha pele imersa na meia luz o guiará. Estarei pronta também, encharcada na espera, o anel expectante, as pregas úmidas, este é o chamado inexorável, o cheiro de nozes almiscaradas que sai das minhas entradas, você será atraído pelo cheiro, e tocará levemente com a ponta do fuste os meus lábios humectantes, muito leve, só este contato que lhe arrancará um rugido do peito ofegante, calma, logo você poderá me enfiar, pense nas nossas línguas que porventura se tocariam, a ponta de uma procurando a outra numa simbiose perfeita, e antes disso, a respiração apenas, o hálito das nossas bocas procurando na escuridão um alento, minha serpe aflita enredada na sua, pense nas nossas línguas duras e espere, eu me alojarei agora, o rabo branco a movimentar-se em movimentos orbiculares indo ao encontro de si, assim, este é o nosso único ponto de contato, você pode sentir como as partes de buscam e se conhecem, e também que não é preciso ver para poder sentir, como cães e gatos e porcos seremos, o fuste indo para a casa, uma choupana pobre e aconchegante no meio de uma floresta, e a casa em chamas, a idéia é essa, encontrar o mapa da caverna e entrar. Os movimentos em círculo, os meus lábios escancarados babando à espera da vara, assim, entre, agora, a dança redonda essa que facilita a entrada, um anel a ajustar-se, através do movimento, ao volume e ao cumprimento, parabéns, Excelência, o tamanho é perfeito e a ereção severa, movimentos ascendentes, coordenação, cuide da respiração, e fique imóvel, eu conduzo os movimentos, o rabão nacarado em movimentos circulares a penetrar-lhe o cacete, um círculo e para dentro, outro círculo e avante, assim, assim, isso, Excelência, esse é o ritmo, agora você está inteiro dentro de mim, em harmonioso encaixe, e sinto a sua surpresa, seus gemidos a denunciam, uma mulher de rabo tão largo e carnes tão fartas com a quirica apertadinha e justa como a de uma infanta. E você desfruta desta surpresa, geme óhs e ais significativos e vou ajustando a melada cada vez mais profundamente na sua haste aflita. Assim, agora você está seguro, e agarra os gomos com força e entra frenético, o cheiro adocicado é quase insuportável, está perfeito assim, esse é o ritmo, os movimentos circulares permitem que, ora sim ora também, a castanha roce a base da vara e intensifique a velocidade da dança, e o saco tal qual um pêndulo premendo as minhas coxas, socando, eu sei que você vai gozar, Excelência, posso sentir a sua urgência. Contenho as contrações, essas que pressionam como uma boca de criança o fuste cego e o chamam, mais e mais, para dentro, assim, meu Soberano, assim, o jorro quente derramado, um leite ácido que sabe a nozes agora e que me inunda. Relaxo os joelhos e você desaba sobre o meu corpo, cobre-o com sua superfície grande e deixa-se ficar assim, ofegante, sentindo o cheiro dos meus cabelos suados. Não tire a máscara, descanse, seus braços fortes agarrados aos meus, enquanto você volta, Excelência, náufrago.


Lélia Almeida.
In: A escrivã da corte, 2007. (Fragmento, Texto inédito).

Um comentário:

mmadu disse...

Oi, Lélia,
Gostei do teu texto: vigoroso, sensual, instigante, seguro de aonde quer ir. Preciso te ler mais.
Um beijo,
Mario