quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sabedoria de salão, por Lélia Almeida. Saibam, há algumas coisas em comum entre os salões mais ricos e os mais modestos de Brasília. As manicures são todas moças batalhadoras, vindas dos confins de todos os estados brasileiros e estão ali, de cabeça baixa, trabalhando nas nossas cutículas, certas de que vão dar certo na capital do país. Sei disto, porque converso com todas elas. Num salão muito chique de Brasília, uma típica perua brasiliense, cheia dos brilhos, conta que foi ao show do Roberto Carlos. É uma mulher negra, belíssima, de corpo escultural e cabelão comprido alisado. Com lâminas coloridas nos cabelos besuntados de tinta, vestindo batas brancas que lembram imensos babadouros salivamos de inveja do que ela conta. Que foi, vestida de lamê, coque alto, ao lado do seu marido rico e ciumento, no show do Roberto Carlos. O rei atirou uma flor especial para ela enquanto um segurança saradíssimo veio dizer que o rei queria vê-la no camarim depois do show. Ela não foi. O marido a arrastou pelo braço, furioso no meio do espetáculo. Nos transformamos, todas, em juízas impiedosas dizendo que ela era uma burra, nossos babadouros transformados em togas de magistradas feministas e iradas. Onde já se viu, uma oportunidade daquelas! E ela saboreava a nossa inveja da sua vida farta de homens – o marido, o rei, o segurança incluído – enquanto escolhia vermelho rebu para as longas unhas que nunca passaram perto de um fogão! A inveja não é verde, pensei, a inveja é vermelho rebu. A manicure que massageava as minhas mãos disse para a pedicure: “- Fazendo cu doce com o rei, nunca vi disso!” Num salão muito popular de Brasília, na rodoviária, uma mulher mulata e muito gorda, decote avantajado, vestido estampado e muito justo, cabelo crespo e vermelho, conta em alto e bom tom para não deixar dúvidas sobre quem é, que já fez muitos homens felizes na cidade: “- Porque comigo não tem fricote, eu posso dizer com o maior orgulho que sou uma boqueteira prestigiada na praça e que chupo porque gosto e que tem homem de todo o país querendo casar comigo, mas não caso, não, eu adoro a vida que levo, e já comprei a minha casinha e o meu carro.” Fez todo este discurso sob o olhar estupefato da dona do salão que estava no caixa recebendo os pagamentos. O salão veio abaixo em aplausos e assovios. Ponto de vista, eu pensei. É tudo uma questão de ponto de vista! E tem umas que, certamente, estão se divertindo mais do que as outras. Façam as suas escolhas, meninas!

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