sexta-feira, 23 de outubro de 2015



Rapunzel, por Lélia Almeida.

Rapunzel publicou um anúncio no Face procurando um namorado, um cara legal, boa gente, dedicado, companheiro e divertido. Choveram mensagens e ela foi fazendo o descarte pelas fotos, sobraram poucos e ela decidiu recebe-los na porta da torre, deixando as tranças douradas firmemente atadas nas grades da janela. Um deles, um príncipe vindo de terras distantes ajoelhou-se aos seus pés e com voz maviosa disse que lhe seria eternamente fiel e apaixonado, que casaria com ela, que a faria feliz e lhe daria muitos filhos e que ela seria o grande amor de sua vida. Que ela esperasse por ele, tinha ainda muito que resolver, que voltaria, que ela o esperasse, que não se arrependeria pela paciência e perseverança. O mancebo falava de olhos fechados e parecia hipnotizado pela própria voz sem parecer vê-la, nem mesmo ouvi-la ou perguntar o que ela queria. Entendeu que o narciso-em-flor era daqueles que ignoram as demandas das mulheres e que ela mesma nunca ia ter espaço para expressá-las. “Deus-me-livre”, ela pensou escalando silenciosamente de volta pra torre e enquanto ele seguia embalado por suas promessas em mantra sedutor. Quando abriu os olhos a moça já estava lá em cima, e pode ouvir a voz de Rapunzel pela primeira vez, definitiva e firme:

- PRÓXIMO!

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