Leite Vermelho:
Lélia Almeida
Reuniu-se na Associação Brasileira de Imprensa no Rio de Janeiro, no dia nove de novembro, um grupo de cinqüenta mães representantes das comunidades mais violentas do Rio de Janeiro. O objetivo do encontro foi o de apresentarem demandas pontuais do que elas consideram suas realidades específicas, e para as quais elas entendem que o Estado não tem respostas nem providências.
Apresentaram-se dizendo seus nomes, o nome de suas comunidades e de seus filhos e filhas mortas, vítimas da violência nas zonas conflagradas, que se assemelham, em seus dramas, às das realidades das demais regiões metropolitanas do país.
Sou Maria José, e meu filho se chamava Carlos André, procuro por justiça há nove anos, são nove anos de espera, meu filho foi executado; Teia, mãe do William, nove anos de ausência e de saudades; Vilma, mãe de Talita; Sônia, mãe de policial morto, executado por traficantes. Ana, mãe de Thiago, procuro por justiça há 16 anos. A verdade é que a vida não vale nada onde moramos, meu filho morreu porque era negro e pobre, é um pedaço da gente que vai embora pra sempre.
Elas são os arquivos vivos, silenciados e esquecidos das histórias atrozes das chacinas de Queimados, do Maracanã, de Vigário Geral ou da Baixada. Elas são as Mães do Rio, as Mães de Acari, as Mães de Vigário Geral e são as protagonistas do capítulo de uma história do país que ainda não foi contada. E cujo roteiro, final e personagens são sempre os mesmos e que relatam como os nossos jovens são abatidos como bichos, todos os dias, transformando a vida dessas mães num verdadeiro calvário de dor e incompreensão. Isso aqui é uma terra de ninguém, de um lado estamos nós e nossos filhos, e do outro estão os maus policiais, a milícia ou o tráfico, que a gente não sabe quem mata mais que o outro.
As narrativas se parecem, e contam a história dos filhos mortos na ida para a escola, da necessidade de pagar o pedágio para os traficantes para que os meninos possam chegar a salvo na escola sem que sejam jogados das passarelas ou queimados no meio do caminho, por exemplo.
Estas mulheres não assistem Sex and the City, nem Mothern, e não conhecem os questionamentos do feminismo sobre a maternidade, suas demandas são simples e suas reflexões não são acadêmicas nem sofisticadas. Elas perderam seus filhos, seus filhos foram assassinados, elas pararam suas existências para procurar por Justiça. Algumas interromperam suas vidas para procurar os corpos de suas crianças, como as mães de Acari, que procuram pelos corpos dos seus onze filhos há quinze anos, e que ouvem a máxima de que não há como fazer Justiça nem punir ninguém, porque sem corpo não tem crime.
Estas mulheres, na sua grande maioria, perderam os maridos, porque eles constituíram novas famílias ou partiram, já que é insuportável, de muitas maneiras, conviver com estas mulheres que só tem um motivo para continuar vivendo, que é o de procurar por justiça, procurar uma explicação.
Estas mulheres encontram consolo ao se reunir com outras mulheres que sentem a mesma dor. Tentam transformar o luto em luta, e não se abatem, o motivo para que elas continuem vivendo é poderoso, elas gritam o nome dos seus filhos pelas ruas do país, a cada dia das mães, elas se reúnem e lembram o nome deles, porque quando elas deixarem de fazer isso a história de sadismo e violência que assola as regiões metropolitanas deste país vai estar legitimada e mais banalizada do que já está.
Elas não se fazem muitas perguntas sobre a dupla jornada de trabalho, nem sobre as novas tecnologias reprodutivas, nem sobre como os pais devem criar seus filhos, elas não sofisticaram a reflexão como muitas outras mulheres do mundo civilizado.
Como as emblemáticas Mães da Praça de Mayo, na Argentina, e como muitas outras mães pobres dos países periféricos, que assistem à morte e ao desaparecimento de seus filhos, diariamente, em circunstâncias brutais, e que, na maior parte das vezes, não vêem a Justiça acontecer, estas mães não tiveram a possibilidade de sofisticar a reflexão.
Joana Angélica, mãe de Carlos que foi executado em Queimados disse, estes filhos todos, desaparecidos, executados, e por cuja morte a Justiça não faz nada, são todos filhos de todas as mães, e nós somos mães de todos eles. Elas se chamam de mães comunitárias. E este é um triste e importante legado que as mulheres latino-americanas, junto com as outras mulheres pobres e vítimas de violência do mundo inteiro, trazem para a pauta das discussões feministas, o de colocar a discussão sobre a maternidade num outro patamar, onde ela é coletiva, onde ela é social.
As demandas dessas mães estão sendo levantadas pelo Ministério da Justiça para finalizar o Projeto Mães da Paz, do Programa Nacional de Segurança com Cidadania, o Pronasci. Com suas histórias dramáticas, elas fazem parte do público-alvo do projeto, juntamente com outros grupos de mães de apenados, mães de jovens em situação de risco e vulnerabilidade social e outras mulheres que se relacionam com os jovens que são o público-alvo do programa.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Homenagens às mães, de Lélia Almeida.
[...] Pensar contra si mesmo é freqüentemente uma atitude fecunda; mas no caso de minha mãe a história era outra: ela viveu contra si mesma. Rica em apetites, empregou toda a sua energia para reprimi-los e suportou essa renúncia convertendo-a em cólera. Em sua infância, comprimiram seu corpo, seu coração, seu espírito, num espartilho de princípios e interdições. Ensinaram-na a apertar ela mesma, com firmeza os cordões. Subsistia nela uma mulher corajosa e arrebatada; mas contrafeita, mutilada e estranha a si própria.
De Simone de Beauvoir, quando conta a morte de sua mãe no seu inesquecível Uma morte muito suave.
Camille Paglia, em entrevista recente, disse que o feminismo contemporâneo não atende mais às demandas das mulheres e que as mulheres têm de voltar a refletir sobre a centralidade da maternidade em suas vidas.
Quem diria, quem-te-viu-quem-te-vê!
Tenho de concordar com a Paglia, de quem já discordei muitas vezes em outros tempos. No Brasil, atualmente, quanto mais o feminismo se institucionaliza, mais longe das mulheres ele se coloca, muito embora esta discussão não caiba numa homenagem.
Erica Jong, outra ilustre feminista americana, já alertou que o simples fato dos peitos femininos reagirem em abundância de leite ao choro de uma criança, nos deu um determinado lugar na história do mundo, para o bem e para o mal, diga-se. E que este lugar não deve ser subestimado como querem determinadas feministas.
E quando o assunto é a enigmática identidade feminina não avançamos muito além das discussões sobre o papel fundamental dos pais na vida de suas filhas. Mas outra discussão se impõe e essa, diferentemente de outros países, nunca foi levada a termo pelo feminismo brasileiro. E o foi de maneira bastante superficial pela nossa literatura. A verdade é que a grande encrenca da vida das meninas e sobre a qual elas devem refletir com atenção ao longo de uma vida, são as suas mães.
No entanto, as teóricas feministas italianas, espanholas, francesas ou as mexicanas, e outras centenas de mulheres ficcionistas, no mundo inteiro, têm se ocupado deste tema de maneira quase sempre original e comovente.
Lembrei da representação de algumas figuras maternas que me foram caras, tanto no cinema como na literatura. E que me fizeram pensar sobre o intrincado fenômeno da maternidade na vida das mulheres.
Listas são expedientes que primam pela injustiça, pelo esquecimento e pela incompletude. Os filmes e livros que seguem não são, necessariamente, aqueles que considero os melhores sobre o tema, inclusive, porque gosto muito de alguns que nem considero tão bons. Mas que apresentam figuras maternas e reflexões importantes sobre a maternidade e que me fizeram pensar sobre o assunto.
No cinema,
1. Tudo sobre minha mãe do Pedro Almodóvar.
2. A excêntrica família de Antonia de Marleen Gorris.
3. Sonata de outono de Ingmar Bergman.
4. O clube da felicidade e da sorte de Ang Lee.
5. Minha mãe é uma sereia de Richard Benjamin.
6. Colcha de retalhos de Jocelyn Moorhouse.
7. Eclipse Total de Taylor Hackford.
8. A história oficial de Luis Puenzo.
9. A escolha de Sofia de Alan Pakula.
10. Quatro meses, três semanas e dois dias de Cristian Mungiu.
11. Correndo com tesouras de Ryan Murphy.
12. Café da manhã em Plutão de Neil Jordan.
13. Filhos da esperança de Alfonso Cuarón.
14. Kill Bill, vol 2 de Quentin Tarantino.
15. La luna de Bernardo Bertolucci.
16. Mamãe faz cem anos de Carlos Saura.
17. A outra de Woody Allen.
18. A criança de Jean Pierre Dardenne e Jean-Luc Dardenne.
19. Quase famosos de Cameron Crowe.
20. Laurel Canyon de Lisa Cholodenko.
Na literatura,
1. Uma morte muito suave de Simone de Beauvoir.
2. O Penhoar chinês de Rachel Jardim.
3. Paula de Isabel Allende.
4. Os cisnes selvagens de Jung Chang.
5. Medo aos cinqüenta de Erica Jong.
6. O amante de Marguerite Duras.
7. Há vinte anos, Luz de Elza Osório.
8. A caixa de santinhos de Esperanza de Maria Amparo Escandón.
9. A hóspede especial de Sue Miller.
10. Bondade de Carol Shields.
11. A falta que ela me faz de Joyce Carol Oates.
12. A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas de Maria José Silveira.
13. A morte da mãe de Maria Isabel Barreno.
14. A senhora dos sonhos de Sara Sef.
15. As Mulheres de Tijucopapo de Marilene Felinto.
16. Notícia da cidade selvagem de Lídia Jorge.
17. A história da Aia de Margaret Atwood.
18. Hanna e suas filhas de Marianne Fredriksson.
19. Como água para chocolate de Laura Esquivel.
20. Dicionário de nomes próprios de Amélie Nothomb.
[...] Pensar contra si mesmo é freqüentemente uma atitude fecunda; mas no caso de minha mãe a história era outra: ela viveu contra si mesma. Rica em apetites, empregou toda a sua energia para reprimi-los e suportou essa renúncia convertendo-a em cólera. Em sua infância, comprimiram seu corpo, seu coração, seu espírito, num espartilho de princípios e interdições. Ensinaram-na a apertar ela mesma, com firmeza os cordões. Subsistia nela uma mulher corajosa e arrebatada; mas contrafeita, mutilada e estranha a si própria.
De Simone de Beauvoir, quando conta a morte de sua mãe no seu inesquecível Uma morte muito suave.
Camille Paglia, em entrevista recente, disse que o feminismo contemporâneo não atende mais às demandas das mulheres e que as mulheres têm de voltar a refletir sobre a centralidade da maternidade em suas vidas.
Quem diria, quem-te-viu-quem-te-vê!
Tenho de concordar com a Paglia, de quem já discordei muitas vezes em outros tempos. No Brasil, atualmente, quanto mais o feminismo se institucionaliza, mais longe das mulheres ele se coloca, muito embora esta discussão não caiba numa homenagem.
Erica Jong, outra ilustre feminista americana, já alertou que o simples fato dos peitos femininos reagirem em abundância de leite ao choro de uma criança, nos deu um determinado lugar na história do mundo, para o bem e para o mal, diga-se. E que este lugar não deve ser subestimado como querem determinadas feministas.
E quando o assunto é a enigmática identidade feminina não avançamos muito além das discussões sobre o papel fundamental dos pais na vida de suas filhas. Mas outra discussão se impõe e essa, diferentemente de outros países, nunca foi levada a termo pelo feminismo brasileiro. E o foi de maneira bastante superficial pela nossa literatura. A verdade é que a grande encrenca da vida das meninas e sobre a qual elas devem refletir com atenção ao longo de uma vida, são as suas mães.
No entanto, as teóricas feministas italianas, espanholas, francesas ou as mexicanas, e outras centenas de mulheres ficcionistas, no mundo inteiro, têm se ocupado deste tema de maneira quase sempre original e comovente.
Lembrei da representação de algumas figuras maternas que me foram caras, tanto no cinema como na literatura. E que me fizeram pensar sobre o intrincado fenômeno da maternidade na vida das mulheres.
Listas são expedientes que primam pela injustiça, pelo esquecimento e pela incompletude. Os filmes e livros que seguem não são, necessariamente, aqueles que considero os melhores sobre o tema, inclusive, porque gosto muito de alguns que nem considero tão bons. Mas que apresentam figuras maternas e reflexões importantes sobre a maternidade e que me fizeram pensar sobre o assunto.
No cinema,
1. Tudo sobre minha mãe do Pedro Almodóvar.
2. A excêntrica família de Antonia de Marleen Gorris.
3. Sonata de outono de Ingmar Bergman.
4. O clube da felicidade e da sorte de Ang Lee.
5. Minha mãe é uma sereia de Richard Benjamin.
6. Colcha de retalhos de Jocelyn Moorhouse.
7. Eclipse Total de Taylor Hackford.
8. A história oficial de Luis Puenzo.
9. A escolha de Sofia de Alan Pakula.
10. Quatro meses, três semanas e dois dias de Cristian Mungiu.
11. Correndo com tesouras de Ryan Murphy.
12. Café da manhã em Plutão de Neil Jordan.
13. Filhos da esperança de Alfonso Cuarón.
14. Kill Bill, vol 2 de Quentin Tarantino.
15. La luna de Bernardo Bertolucci.
16. Mamãe faz cem anos de Carlos Saura.
17. A outra de Woody Allen.
18. A criança de Jean Pierre Dardenne e Jean-Luc Dardenne.
19. Quase famosos de Cameron Crowe.
20. Laurel Canyon de Lisa Cholodenko.
Na literatura,
1. Uma morte muito suave de Simone de Beauvoir.
2. O Penhoar chinês de Rachel Jardim.
3. Paula de Isabel Allende.
4. Os cisnes selvagens de Jung Chang.
5. Medo aos cinqüenta de Erica Jong.
6. O amante de Marguerite Duras.
7. Há vinte anos, Luz de Elza Osório.
8. A caixa de santinhos de Esperanza de Maria Amparo Escandón.
9. A hóspede especial de Sue Miller.
10. Bondade de Carol Shields.
11. A falta que ela me faz de Joyce Carol Oates.
12. A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas de Maria José Silveira.
13. A morte da mãe de Maria Isabel Barreno.
14. A senhora dos sonhos de Sara Sef.
15. As Mulheres de Tijucopapo de Marilene Felinto.
16. Notícia da cidade selvagem de Lídia Jorge.
17. A história da Aia de Margaret Atwood.
18. Hanna e suas filhas de Marianne Fredriksson.
19. Como água para chocolate de Laura Esquivel.
20. Dicionário de nomes próprios de Amélie Nothomb.
Pasaporte:
De Rosario Castellanos.
¿Mujer de ideas? No, nunca he tenido una.
Jamás repetí otras ( por pudor o por faltas nemotécnicas).
¿Mujer de acción? Tampoco.
Basta mirar la talla de mis pies y de mis manos.
Mujer, pues, de palabra. No, de palabra no.
Pero sí de palabras,
muchas, contradictorias, ay, insignificantes,
sonido puro, vacuo cernido de arabescos,
juego de salón, chisme, espuma, olvido.
Pero si es necesaria una definición
para el papel de identidad, apunte
que soy mujer de buenas intenciones
y que he pavimentado
un camino fácil y directo al infierno.
De Rosario Castellanos.
¿Mujer de ideas? No, nunca he tenido una.
Jamás repetí otras ( por pudor o por faltas nemotécnicas).
¿Mujer de acción? Tampoco.
Basta mirar la talla de mis pies y de mis manos.
Mujer, pues, de palabra. No, de palabra no.
Pero sí de palabras,
muchas, contradictorias, ay, insignificantes,
sonido puro, vacuo cernido de arabescos,
juego de salón, chisme, espuma, olvido.
Pero si es necesaria una definición
para el papel de identidad, apunte
que soy mujer de buenas intenciones
y que he pavimentado
un camino fácil y directo al infierno.
sexta-feira, 14 de março de 2008
Escrevo (…) estas coisas por ter a impressão de que em algum lugar, quem sabe no campo da literatura ou das artes, resta-nos um caminho capaz de invalidar as já referidas desvantagens. Eu mesmo quero chamar de volta, pelo menos ao campo literário, esse mundo de sombras que estamos prestes a perder. No santuário da Literatura, eu projetaria um beiral amplo, pintaria as paredes de cores sombrias, enfurnaria nas trevas tudo que se destacasse em demasia e eliminaria enfeites desnecessários. Não é preciso uma rua inteira de casas semelhantes, mas que mal faria se existisse ao menos uma construção com essas características? E agora vamos apagar as luzes elétricas para ver como fica.
Junichiro Tanizaki .
Junichiro Tanizaki .
Anos depois da guerra, depois dos casamentos, dos filhos, dos divórcios, dos livros, ele foi a Paris com a mulher. Telefonou-lhe. Sou eu. Ela reconheceu a voz. Ele disse: queria apenas ouvir sua voz. Ela disse: sou eu, bom dia. Ele estava intimidado, com medo, como antes. Sua voz começou a tremer de repente. E, com esse tremor, subitamente ela reencontrou o sotaque da China. Ele sabia que ela começara a escrever, soubera pela mãe, com que se encontrou em Saigon. E também sobre o irmãozinho, ficara triste por ela. E depois não soube mais o que dizer. E depois lhe disse. Disse que continuava como antes, que a amava ainda, que jamais poderia deixar de amá-la, que a amaria até a morte.
Marguerite Duras.
Marguerite Duras.
A parte desconhecida da minha vida é a minha vida escrita. Morrerei sem conhecer essa parte desconhecida. Como foi escrito isto, porquê, como o escrevi, não sei, não sei como isto começou. Não se pode explicar. Donde vêm certos livros? A página está vazia e, de repente, já há trezentas páginas. Donde vem isto? É preciso deixar andar, quando se escreve, não devemos controlar-nos, é preciso deixar andar, porque não sabemos tudo de nós próprios. Não sabemos o que somos capazes de escrever.
[...] Após o final de cada livro é o fim do mundo inteiro, é sempre assim, de cada vez. E depois tudo recomeça, como a vida. Quando se escreve, não se pode falar em vez de escrever. O que se passa quando se escreve, nunca se pode dizer. Eu consigo ler uma passagem, mas depressa fico assustada. Sou mais escritora do que vivente, que uma pessoa que vive. Naquilo que vivi, sou mais escritora do que alguém que vive. É assim que eu me vejo.
Marguerite Duras, in 'Mundo Exterior '
[...] Após o final de cada livro é o fim do mundo inteiro, é sempre assim, de cada vez. E depois tudo recomeça, como a vida. Quando se escreve, não se pode falar em vez de escrever. O que se passa quando se escreve, nunca se pode dizer. Eu consigo ler uma passagem, mas depressa fico assustada. Sou mais escritora do que vivente, que uma pessoa que vive. Naquilo que vivi, sou mais escritora do que alguém que vive. É assim que eu me vejo.
Marguerite Duras, in 'Mundo Exterior '
Grande é a diferença entre o turista e o viajante. O primeiro é uma criatura feliz que parte por este mundo com a sua máquina fotográfica a tiracolo, o guia de bolso, um sucinto vocabulário entre os dentes; seu destino é caminhar pela superfície das coisas como do mundo, com a curiosidade suficiente para passar de um ponto a outro, olhando o que lhe apontam, comprando o que lhe agrada, expedindo muitos postais, tudo com uma agradável fluidez, sem apego nem compromisso. (...) O viajante é criatura menos feliz, de movimentos mais vagarosos, todo enredado em afetos, querendo morar em cada coisa, descer à origem de tudo, amar loucamente cada aspecto do caminho, desde as pedras mais toscas às mais sublimadas almas do passado, do presente e até do futuro – um futuro que ele nem conhecerá.
Cecilia Meireles
Cecilia Meireles
Nunca te esqueças de ter desejos, Malte. Não se deve deixar de ter desejos. Penso que eles não se cumprem, mas há desejos que duram muito tempo, toda a vida, de tal modo que não seria possível esperar o seu cumprimento.
Rainer Maria Rilke,
in As anotações de Malte Laurids Brigge, trad. de Maria Teresa Dias Furtado, ed. Relógio D'Água.
Rainer Maria Rilke,
in As anotações de Malte Laurids Brigge, trad. de Maria Teresa Dias Furtado, ed. Relógio D'Água.
"Numa palavra, devo renascer periodicamente, tornar-me mais jovem do que sou. Aos cinquenta anos, Michelet começava a sua vita nuova: nova obra, novo amor. Mais velho do que ele (compreenda-se que o paralelo estabelecido é afectivo), entro eu também numa vita nuova, marcada agora por este novo lugar, esta nova hospitalidade. Tento assim deixar-me levar pela força de toda a vida viva: o esquecimento. Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas surge em seguida uma outra em que se ensina o que se não sabe: a isso se chama procurar. Chega agora, talvez, a idade de uma outra experiência: a de desaprender, de deixar germinar a mudança imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes, das culturas, das crenças que atravessámos. Essa experiência tem, creio eu, um nome ilustre e fora de moda que ousarei aqui arrebatar, sem complexos, à própria encruzilhada da sua etimologia. Sapientia: nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria e o máximo de sabor possível."
Roland Barthes, Lição - Comment vivre ensemble: simulations romanesques de quelques espaces quotidiens 1977 -cit. in http://abnoxio.blogs.sapo.pt/
Roland Barthes, Lição - Comment vivre ensemble: simulations romanesques de quelques espaces quotidiens 1977 -cit. in http://abnoxio.blogs.sapo.pt/
Pauline querida:
O mundo não tem mais graça. De grande que era se tornou pequeno, as distâncias todas acessíveis, todo mundo pode falar muitos idiomas e ir a todos os lugares e há McDonald´s, para alívio do Pedro, espalhados pelo mundo. Conheço um monte de pessoas super viajadas, viajar já não é mais viajar, se me entendes. Quando eu era pequena e morava em Sant’Ana do Livramento, de tempos em tempos vinha pela cidade uma japonesa que parecia uma boneca de porcelana oriental. Vendia pérolas do Japão. Não sei se tem pérolas no Japão, mas o que eu sei é que ela vendia pérolas do Japão. Vestia sempre um tubinho preto, usava uma estola de tecido bordada com finíssimo fio de seda oriental e tirava de dentro um estojo de veludo verde, e era ver o contraste da claridade da pérola no fundo escuro. Um sonho, um luxo. Minha mãe comprou uma vez um colar de uma volta só e outra ocasião um par de brincos que eu cobicei uma vida inteira e que agora nem imagino onde estejam. A questão é que aquela mulherzinha minúscula que falava uma mescla de muitos idiomas para se comunicar, vinha do outro lado do mundo, com uma mercadoria valiosíssima, autêntica, a inquietar o coração e o bolso daquelas pacatíssimas mulheres fronteiriças. E era um luxo, se reunia uma mulherada enorme, as amigas, faziam o ritual do chá, cada uma trazia a torta ou o quitute mais delicioso e se extasiavam com as pérolas japonesas, lindas, se enfeitavam como verdadeiras rainhas. Cada vez que a japonesa anunciava a sua chegada eu tinha a sensação, que só posso descrever hoje, de estar na frente de um personagem cinematográfico, uma mulherzinha pequena e redonda, enrolada em peles, coberta de pérolas: !era de cine, chica, te lo cuento, era de cine! E assim era com o chá chinês, uma colcha indiana, um xale russo, põe tudo isso num baú (restaurado, é claro) e vê que bagagem, quanta história. Me lembro agora de muitos vendedores ambulantes na minha vida de compradora, que vendiam o produto como peça exclusiva, em atenção especial e que eu comprava ávida, às vezes muito mais encantada com a história da peça do que com a peça propriamente dita. Mas agora não tem mais graça, o que vem do Japão é vulgar e falso e massivo, vem fácil, é feito aos milhares para nós, os supremos babacas ocidentais devorarmos e depois descartarmos, as pérolas são falsas, o chá chinês é inglês e se compra no supermercado da esquina, o que é chinês não tem requinte e o que vem da Índia não é indiano, que as mulheres indianas jamais usariam aquelas roupas, tecem-nas para nós, para a nossa ilusão de feminilidade, muito diferente da delas. E eu, não encontrei com um amigo em Londres? Não pode ser, me sinto desencantada, traída, viciada num circuito pequeno, aeroportos, McDonald’s, Shoppings, o mundo não tem mais graça. Eu gosto é dos cantos, dos recantos, do reduto mais longínquo, lá onde não é chique ir, estar, aparecer, como se fosse possível escrever um guia turístico para os sonhadores, um guia com a casa dos escritores, por exemplo, nada de catedrais romanas e seus caríssimos souvenirs, mas a casa em que a Virginia Woolf morreu em Londres, a do Fernando Pessoa. Ontem descobri aqui em Mendoza uma ruazinha sem asfalto e com poucas casas, muito da sem graça, se chamava Calle Alfonsina Storni. Me comovi, naquele fim de mundo, ela a Alfonsina, a Alfonsina e o mar. Não quero mais ir a Paris, Londres, quero o fim do mundo, o cu do mundo, por assim dizer, e me emocionar com o que é mais comum e corriqueiro nas cidades pequenas do mundo, ônibus velhos, como são os argentinos, senhoras gordas e suadas que carregam os filhos muito limpos e domingueiros nas ancas, namorados apaixonados que só se vêem nos sábados à tarde, gente vagabunda e preguiçosa que nem eu, passeando pela cidade. Nada demais, só esta sensação de que o mundo se vulgarizou, perdeu a graça. É tão fácil ir a Paris. E não aproveitar, e voltar dizendo que os franceses são fedorentos e que chove em Londres e que os ravioles italianos são bárbaros. Eu, por mim, interiorana da pior espécie, gosto destes recantos pequenos, onde acontecem as histórias mais tórridas, sim senhora, o Manoel sabia, disso sim, e, aqui eles dizem, “pueblo Chico, infierno grande”, lugares pequenos, onde todo mundo se mete na vida de todo mundo. Para depois chegar em Buenos Aires, sentar num café depois da excursão pelas livrarias da calle Corrientes, pedir um café e se sentir a criatura mais cosmopolita do mundo, naquela cidade que faz a gente estar no mundo e se sentir em casa, como se isso fosse possível, e em Buenos Aires, isso é possível. Acho que não fui morar lá só para poder sentir isso cada vez que vou lá. Porque se eu morasse lá, é claro que eu ia começar a reclamar do metrô, do barulho da cidade, etc. E agora tem o Pedro Domingues, que em plena 9 de Julio, de mochila nas costas, me olhou muito surpreso e disse, “legal esta cidade, hein mãe, até parece Nova York!” E assim eu ando, minha adorada amiga, uma alma dilacerada, sempre com saudades de algum lugar, devem ser aqueles dois peixes ligados um ao outro, vai um para cada lado, e viva-se com tanto antagonismo. Um caminho que vem, um caminho que vai, que é que eu vou fazer, sou pisciana nascida e o jeito é se acostumar. Portanto, e como não podia deixar de ser, saudades, e o meu amor.
O mundo não tem mais graça. De grande que era se tornou pequeno, as distâncias todas acessíveis, todo mundo pode falar muitos idiomas e ir a todos os lugares e há McDonald´s, para alívio do Pedro, espalhados pelo mundo. Conheço um monte de pessoas super viajadas, viajar já não é mais viajar, se me entendes. Quando eu era pequena e morava em Sant’Ana do Livramento, de tempos em tempos vinha pela cidade uma japonesa que parecia uma boneca de porcelana oriental. Vendia pérolas do Japão. Não sei se tem pérolas no Japão, mas o que eu sei é que ela vendia pérolas do Japão. Vestia sempre um tubinho preto, usava uma estola de tecido bordada com finíssimo fio de seda oriental e tirava de dentro um estojo de veludo verde, e era ver o contraste da claridade da pérola no fundo escuro. Um sonho, um luxo. Minha mãe comprou uma vez um colar de uma volta só e outra ocasião um par de brincos que eu cobicei uma vida inteira e que agora nem imagino onde estejam. A questão é que aquela mulherzinha minúscula que falava uma mescla de muitos idiomas para se comunicar, vinha do outro lado do mundo, com uma mercadoria valiosíssima, autêntica, a inquietar o coração e o bolso daquelas pacatíssimas mulheres fronteiriças. E era um luxo, se reunia uma mulherada enorme, as amigas, faziam o ritual do chá, cada uma trazia a torta ou o quitute mais delicioso e se extasiavam com as pérolas japonesas, lindas, se enfeitavam como verdadeiras rainhas. Cada vez que a japonesa anunciava a sua chegada eu tinha a sensação, que só posso descrever hoje, de estar na frente de um personagem cinematográfico, uma mulherzinha pequena e redonda, enrolada em peles, coberta de pérolas: !era de cine, chica, te lo cuento, era de cine! E assim era com o chá chinês, uma colcha indiana, um xale russo, põe tudo isso num baú (restaurado, é claro) e vê que bagagem, quanta história. Me lembro agora de muitos vendedores ambulantes na minha vida de compradora, que vendiam o produto como peça exclusiva, em atenção especial e que eu comprava ávida, às vezes muito mais encantada com a história da peça do que com a peça propriamente dita. Mas agora não tem mais graça, o que vem do Japão é vulgar e falso e massivo, vem fácil, é feito aos milhares para nós, os supremos babacas ocidentais devorarmos e depois descartarmos, as pérolas são falsas, o chá chinês é inglês e se compra no supermercado da esquina, o que é chinês não tem requinte e o que vem da Índia não é indiano, que as mulheres indianas jamais usariam aquelas roupas, tecem-nas para nós, para a nossa ilusão de feminilidade, muito diferente da delas. E eu, não encontrei com um amigo em Londres? Não pode ser, me sinto desencantada, traída, viciada num circuito pequeno, aeroportos, McDonald’s, Shoppings, o mundo não tem mais graça. Eu gosto é dos cantos, dos recantos, do reduto mais longínquo, lá onde não é chique ir, estar, aparecer, como se fosse possível escrever um guia turístico para os sonhadores, um guia com a casa dos escritores, por exemplo, nada de catedrais romanas e seus caríssimos souvenirs, mas a casa em que a Virginia Woolf morreu em Londres, a do Fernando Pessoa. Ontem descobri aqui em Mendoza uma ruazinha sem asfalto e com poucas casas, muito da sem graça, se chamava Calle Alfonsina Storni. Me comovi, naquele fim de mundo, ela a Alfonsina, a Alfonsina e o mar. Não quero mais ir a Paris, Londres, quero o fim do mundo, o cu do mundo, por assim dizer, e me emocionar com o que é mais comum e corriqueiro nas cidades pequenas do mundo, ônibus velhos, como são os argentinos, senhoras gordas e suadas que carregam os filhos muito limpos e domingueiros nas ancas, namorados apaixonados que só se vêem nos sábados à tarde, gente vagabunda e preguiçosa que nem eu, passeando pela cidade. Nada demais, só esta sensação de que o mundo se vulgarizou, perdeu a graça. É tão fácil ir a Paris. E não aproveitar, e voltar dizendo que os franceses são fedorentos e que chove em Londres e que os ravioles italianos são bárbaros. Eu, por mim, interiorana da pior espécie, gosto destes recantos pequenos, onde acontecem as histórias mais tórridas, sim senhora, o Manoel sabia, disso sim, e, aqui eles dizem, “pueblo Chico, infierno grande”, lugares pequenos, onde todo mundo se mete na vida de todo mundo. Para depois chegar em Buenos Aires, sentar num café depois da excursão pelas livrarias da calle Corrientes, pedir um café e se sentir a criatura mais cosmopolita do mundo, naquela cidade que faz a gente estar no mundo e se sentir em casa, como se isso fosse possível, e em Buenos Aires, isso é possível. Acho que não fui morar lá só para poder sentir isso cada vez que vou lá. Porque se eu morasse lá, é claro que eu ia começar a reclamar do metrô, do barulho da cidade, etc. E agora tem o Pedro Domingues, que em plena 9 de Julio, de mochila nas costas, me olhou muito surpreso e disse, “legal esta cidade, hein mãe, até parece Nova York!” E assim eu ando, minha adorada amiga, uma alma dilacerada, sempre com saudades de algum lugar, devem ser aqueles dois peixes ligados um ao outro, vai um para cada lado, e viva-se com tanto antagonismo. Um caminho que vem, um caminho que vai, que é que eu vou fazer, sou pisciana nascida e o jeito é se acostumar. Portanto, e como não podia deixar de ser, saudades, e o meu amor.
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Estamos nivelados em cruzeiro:
Lélia Almeida.
Boa noite a todos. Eu sou o Comandante Mauro e quero dar boa-noite a todos. E dizer que temos céu limpo e temperatura firme até Brasília. Já deixamos para trás a massa de ar frio que estava sobre a cidade de Porto Alegre, estamos voando a 12 mil metros e estamos sobrevoando neste momento as cidades de São Paulo e Campinas. Logo estaremos sobrevoando o centro-oeste do país onde a temperatura é amena e seca. Aos que seguem viagem para Imperatriz e São Luis do Maranhão desejamos boa viagem e aos que descem na capital do país desejamos uma boa estada. Já morei muitos anos em Brasília onde tive dois filhos e onde fui muito feliz. Além de ser um lugar politicamente importante, a nossa capital é uma cidade encantadora, tem uma arquitetura única que os senhores não encontrarão em nenhum outro lugar do mundo e a mistura de gentes que ali construiu esta jovem cidade criou uma qualidade cultural e afetiva muito singular. Aproveitem a cidade. As chuvas, para quem não conhece a região, ainda tardarão, só virão a partir de setembro e nesta época do ano, no outono, a luz da cidade é de uma beleza sem igual. Nesta noite de sexta-feira estamos todos cansados e ansiosos para voltar para casa, para o nosso refúgio, para os nossos, e por isso eu desejo a todos um bom retorno. Do lado direito do avião vocês poderão ver a lua cheia em plenilúnio, é uma noite magnífica e não teremos contratempos nem turbulências. Estamos nivelados em cruzeiro, e em breve aterrizaremos em paz e segurança. Boa noite a todos.
Foi o que o comandante disse, estamos nivelados em cruzeiro.
Eu não sei, tecnicamente, o que é isso, mas me senti muito segura voltando pra casa, e apesar do cansaço, tive uma certeza infinita de que estava sendo bem conduzida, seguindo as estrelas rumo ao calor do cerrado.
Senti que essa era a orientação certa, ser guiada por um navegador através do mapa celeste, e gostei de saber que podíamos ir assim, numa nave sólida e com pouca luz, onde muitos dormitavam suas esperanças de um fim de semana no aconchego do lar.
Gostei de saber que é possível andar assim pela vida, nivelados pelo cruzeiro, e então senti que estava, finalmente, tudo bem, e adormeci sem medo da estranheza dos caminhos. Sabendo que mesmo quando dá tudo errado, está tudo certo.
Lélia Almeida.
Boa noite a todos. Eu sou o Comandante Mauro e quero dar boa-noite a todos. E dizer que temos céu limpo e temperatura firme até Brasília. Já deixamos para trás a massa de ar frio que estava sobre a cidade de Porto Alegre, estamos voando a 12 mil metros e estamos sobrevoando neste momento as cidades de São Paulo e Campinas. Logo estaremos sobrevoando o centro-oeste do país onde a temperatura é amena e seca. Aos que seguem viagem para Imperatriz e São Luis do Maranhão desejamos boa viagem e aos que descem na capital do país desejamos uma boa estada. Já morei muitos anos em Brasília onde tive dois filhos e onde fui muito feliz. Além de ser um lugar politicamente importante, a nossa capital é uma cidade encantadora, tem uma arquitetura única que os senhores não encontrarão em nenhum outro lugar do mundo e a mistura de gentes que ali construiu esta jovem cidade criou uma qualidade cultural e afetiva muito singular. Aproveitem a cidade. As chuvas, para quem não conhece a região, ainda tardarão, só virão a partir de setembro e nesta época do ano, no outono, a luz da cidade é de uma beleza sem igual. Nesta noite de sexta-feira estamos todos cansados e ansiosos para voltar para casa, para o nosso refúgio, para os nossos, e por isso eu desejo a todos um bom retorno. Do lado direito do avião vocês poderão ver a lua cheia em plenilúnio, é uma noite magnífica e não teremos contratempos nem turbulências. Estamos nivelados em cruzeiro, e em breve aterrizaremos em paz e segurança. Boa noite a todos.
Foi o que o comandante disse, estamos nivelados em cruzeiro.
Eu não sei, tecnicamente, o que é isso, mas me senti muito segura voltando pra casa, e apesar do cansaço, tive uma certeza infinita de que estava sendo bem conduzida, seguindo as estrelas rumo ao calor do cerrado.
Senti que essa era a orientação certa, ser guiada por um navegador através do mapa celeste, e gostei de saber que podíamos ir assim, numa nave sólida e com pouca luz, onde muitos dormitavam suas esperanças de um fim de semana no aconchego do lar.
Gostei de saber que é possível andar assim pela vida, nivelados pelo cruzeiro, e então senti que estava, finalmente, tudo bem, e adormeci sem medo da estranheza dos caminhos. Sabendo que mesmo quando dá tudo errado, está tudo certo.
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